Reginald H. Fuller, em “Escrituras na Visão Anglicana”, discute a percepção da Bíblia como a Palavra de Deus nas liturgias anglicanas, onde os leitores concluem suas leituras com “Palavra do Senhor”. Embora isso possa parecer um retorno ao fundamentalismo, Fuller argumenta que a Igreja Anglicana nunca defendeu a inerrância ou infalibilidade das Escrituras. Ele cita o Deão Burgon, que via a Bíblia como a voz infalível de Deus, mas destaca que o anglicanismo moderno se concentra no conhecimento da obra salvadora de Jesus Cristo como o ponto central das Escrituras, oferecendo vida eterna à humanidade.
O ensaio de Alexander Leslie Milton aborda o estado atual dos estudos bíblicos na Grã-Bretanha, destacando a persistência do método histórico-crítico em alguns círculos acadêmicos, enquanto o pós-modernismo provoca uma crise em outros. Essa mudança resultou na ruptura entre a intenção do autor e o significado do texto, levando a história da interpretação a ceder espaço para a história da recepção. Esta nova abordagem inclusiva valoriza tanto a leitura e interpretação tradicionais quanto a recepção popular dos textos bíblicos.
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O texto de Frederick Houk Borsch, traduzido por Dom Sumio Takatsu, explora o papel central da Bíblia na Igreja Anglicana, destacando a evolução histórica e a influência dos teólogos latitudinários do século XVII, que apelavam à Escritura, Razão e Tradição. A ambivalência e a tolerância em relação à autoridade e inspiração bíblica são reconhecidas como resultado de fatores políticos e históricos desde o século XVI. A acessibilidade da Bíblia em inglês e a capacidade dos indivíduos de ler e interpretar as Escrituras por si mesmos são vistas como sinais de fortalecimento e maturidade na Comunhão Anglicana, refletindo a dispersão da autoridade e a convicção de que os cristãos podem discernir os essenciais da fé.
O Rev. Pedro Triana, em sua reflexão teológico-hermenêutica, aborda a temática “Além da Teologia da Libertação” durante a Jornada Teológica do IAET. Ele elogia a escolha do tema por sua relevância e controvérsia, destacando a necessidade de refletir sobre os novos rumos que a pós-modernidade, a cultura globalizada e a sensibilidade atual impõem ao pensamento bíblico-teológico. Triana propõe uma análise dos ganhos, perdas e limites da Teologia da Libertação, questionando o que resta dela hoje, e enfatiza a importância da hermenêutica bíblica na formação do pensamento da Igreja, especialmente à luz da herança anglicana.
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A obra “Introdução ao Novo Testamento” de Raymond Edward Brown, traduzida por Paulo F. Valério e publicada pela Editora Paulinas, explora as questões históricas relacionadas à origem, compilação e tradição textual dos livros do Novo Testamento. Esta disciplina científica, rigorosamente histórica, utiliza métodos de pesquisa histórica para esclarecer as circunstâncias da origem de cada livro, permitindo uma compreensão detalhada de sua individualidade histórica. Além disso, investiga as conexões literárias entre os escritos e a formação do cânon, situando-os no contexto da história da Igreja e do dogma.
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