Richard Rorty, em “Duas Utopias”, compara as previsões falhas do Novo Testamento e do “Manifesto Comunista”, destacando que ambas foram concebidas como previsões do futuro baseadas em um conhecimento supremo das forças históricas. No entanto, até agora, essas previsões não se concretizaram, tornando-se objeto de ridículo. Rorty argumenta que, embora ninguém possa provar que o retorno de Cristo ou a revolução proletária não ocorrerão, a espera prolongada e a falta de evidências empíricas tornam essas profecias cada vez mais questionáveis. Ele sugere que, apesar das crises superadas pelo capitalismo e das transformações prometidas pelo cristianismo, as mudanças esperadas não se manifestaram como previsto.
Reginald H. Fuller, em “Escrituras na Visão Anglicana”, discute a percepção da Bíblia como a Palavra de Deus nas liturgias anglicanas, onde os leitores concluem suas leituras com “Palavra do Senhor”. Embora isso possa parecer um retorno ao fundamentalismo, Fuller argumenta que a Igreja Anglicana nunca defendeu a inerrância ou infalibilidade das Escrituras. Ele cita o Deão Burgon, que via a Bíblia como a voz infalível de Deus, mas destaca que o anglicanismo moderno se concentra no conhecimento da obra salvadora de Jesus Cristo como o ponto central das Escrituras, oferecendo vida eterna à humanidade.
O ensaio de Alexander Leslie Milton aborda o estado atual dos estudos bíblicos na Grã-Bretanha, destacando a persistência do método histórico-crítico em alguns círculos acadêmicos, enquanto o pós-modernismo provoca uma crise em outros. Essa mudança resultou na ruptura entre a intenção do autor e o significado do texto, levando a história da interpretação a ceder espaço para a história da recepção. Esta nova abordagem inclusiva valoriza tanto a leitura e interpretação tradicionais quanto a recepção popular dos textos bíblicos.
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O texto de Frederick Houk Borsch, traduzido por Dom Sumio Takatsu, explora o papel central da Bíblia na Igreja Anglicana, destacando a evolução histórica e a influência dos teólogos latitudinários do século XVII, que apelavam à Escritura, Razão e Tradição. A ambivalência e a tolerância em relação à autoridade e inspiração bíblica são reconhecidas como resultado de fatores políticos e históricos desde o século XVI. A acessibilidade da Bíblia em inglês e a capacidade dos indivíduos de ler e interpretar as Escrituras por si mesmos são vistas como sinais de fortalecimento e maturidade na Comunhão Anglicana, refletindo a dispersão da autoridade e a convicção de que os cristãos podem discernir os essenciais da fé.
O Rev. Pedro Triana, em sua reflexão teológico-hermenêutica, aborda a temática “Além da Teologia da Libertação” durante a Jornada Teológica do IAET. Ele elogia a escolha do tema por sua relevância e controvérsia, destacando a necessidade de refletir sobre os novos rumos que a pós-modernidade, a cultura globalizada e a sensibilidade atual impõem ao pensamento bíblico-teológico. Triana propõe uma análise dos ganhos, perdas e limites da Teologia da Libertação, questionando o que resta dela hoje, e enfatiza a importância da hermenêutica bíblica na formação do pensamento da Igreja, especialmente à luz da herança anglicana.
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