Novembro, Mês da Consciência Negra, é ocasião para repensarmos nossos aprendizados sobre esse Livro e a tentativa constante da maioria das tradições cristãs de silenciar ou invisibilizar duas questões importantes no escrito: a negritude da principal personagem e o amor Eros evidenciado no texto.
Sulamita, protagonista do Livro “Cântico dos Cânticos”, no Antigo Testamento da Bíblia Sagrada, mulher negra, cuja negritude não costuma ser evidenciada pela maioria das igrejas cristãs, é a personagem que aqui exalto para enegrecer sua identidade de jovem mulher negra, e sua iniciativa e protagonismo na vivência da plenitude do amor por seu amado.
Leia mais: Sulamita: “Eu sou mulher negra e formosa, porque o sol resplandeceu sobre mim.”
Eu canto a glória das grandes santas,
Filhas do nosso Deus,
Que lutaram sempre com amor
Por Cristo, o Salvador.
Entre as santas de Deus houve nobres e rainhas,
Soldadas, juízes que tratam de leis...
Houve grandes doutoras e muitas heroínas...
Estas são algumas linhas do Hino 331, “Os santos de Deus”, do nosso Hinário Episcopal, adaptadas para as santas, naturalmente sem a preocupação com a métrica.
De fato, entre as santas de Deus houve pessoas de todos os tipos, classe social e dons. Falaremos aqui de três delas.
Margarida da Escócia, Reformadora e Testemunha Profética (16 de novembro)
Festum Omnium Sanctorum: um convite a comunhão das santas e dos santos de todo o dia.
O Dia de Todos os Santos e Todas as Santas, é uma festa da Igreja de Cristo, que no Brasil não tem esta conotação de festa. Há quem diga que é por não ser um dia feriado ou talvez, por ser imediatamente antes do dia de finados que além de feriado, tem na cultura popular uma força e importância muito grande. A verdade, porém, é que estes dois dias estão muito ligados.
O Dia de Todos os Santos e Santas, é celebrado anualmente em 1º de novembro em todo o Ocidente, enquanto nas igrejas do oriente, a comemoração acontece no primeiro domingo após o Pentecostes, e é reconhecida por várias denominações cristãs como católicos romanos, ortodoxos, anglicanos e luteranos.
Oscar Romero foi bispo da Igreja de Cristo, de tradição Romana, em El Salvador, país violentado pela desigualdade e pela violência militar naquela época. As pessoas mais pobres, especialmente camponesas eram as que mais sofriam. Depois de converter-se ao Evangelho de Jesus de vida e justiça (muito tempo depois de ter se tornado bispo), ele foi um homem incansável na luta por igualdade, por reconciliação e por justiça para todas as pessoas.
“Ele era um homem santo, um homem de Deus”, muita gente testemunha com orgulho e com indignação por seu assassinato em uma das igrejas daquele país durante a celebração de uma eucaristia, a memória da vida comprometida com o Reino e perigosa de Jesus.
Sua postura espiritual e pública contra a tortura, contra qualquer violência que diminua a vida humana (IMAGO DEI – imagem de Deus) e contra a pobreza, causada pela desigualdade estrutura e pelo sistema de privilégios vivido então, teve seu desfecho na sua Páscoa no dia 24 de março de 1980, no altar. Ele foi assassinado dentro da igreja cheia de gente enquanto orava a Oração Eucarística.
Ele se tornou, como Jesus, semente de indignação e de ministério pela justiça e pelo bem comum. Ele ressuscita na luta do povo contra a desigualdade, contra a violação institucional e estrutural dos direitos humanos, contra a dizimação de populações camponeses e povos tradicionais. Este espírito de pacificador e de trabalhador da justiça reflete o quanto ele é Bem-Aventurado e agora reconhecido oficialmente pela Igreja de Cristo, de Roma e pela família ampliada Católica, como “entre os santos”.
Romero, agora Santo, é sinal de esperança e inspiração para continuarmos fieis ao Evangelho e cientes das consequências dessa fidelidade.
Nossa família Episcopal/Anglicana acolhe esse reconhecimento com júbilo e compromisso. Arcebispo Rowan Williams, presidente da Christian Aid (agência ecumênica de cooperação internacional e ajuda humanitária da Inglaterra e antigo Arcebispo de Cantuária) liderou uma delegação anglicana para a canonização de dom Oscar Romero, neste final de semana no Vaticano.
O atual arcebispo de Cantuária, Justin Welby, enviou uma carta ao Papa Francisco, na qual descreveu o ex-arcebispo de San Salvador, assassinado quando celebrava a missa em 24 de março de 1980, como “um verdadeiro exemplo para todos os cristãos."
Em sua carta ao Papa Francisco, o arcebispo Justin, disse sobre dom Oscar Romero: “como defensor da paz e da justiça, ele se opunha à opressão e estava consistentemente do lado dos pobres, dos desprivilegiados e dos marginalizados. Nisto ele enfatizou e demonstrou o amor do próprio Cristo."
Em comunicado, o bispo anglicano de El Salvador, Juan David Alvarado Melgar, disse que a diocese “em nossas orações agradece a Deus por nos dar o dom de São Romero, nosso irmão”. Ele disse: “Assumimos o compromisso de seguir seus legados, como reconhecer a presença de Cristo nos seres humanos, nos pobres e vulneráveis; lutar por sua dignidade humana e divina, com ações muito concretas; para trabalhar pelo Reino do Amor do Evangelho ”.
Ele acrescentou: “São Romero nos deixa como legado o compromisso de trabalhar juntos na construção da paz e seguir o caminho para o reino de Deus. A paz tem um ingrediente radical e é justiça."
Francisco, Bispo de Roma, da Igreja Católica Romana, e Pontífice desta família cristã, terminou uma de suas audiências com sua equipe de colaboradores com essa oração atribuída a Oscar Arnulfo Romero:
De vez em quando ajuda-nos recuar um passo e ver de longe.
O Reino não está apenas para além dos nossos esforços,
está também para além das nossas visões.
Na nossa vida, conseguimos cumprir apenas uma pequena parte
daquele maravilhoso empreendimento que é a obra de Deus.
Nada daquilo que fazemos está completo.
Isto quer dizer que o Reino está mais além de nós mesmos.
Nenhuma afirmação diz tudo o que se pode dizer.
Nenhuma oração exprime completamente a fé.
Nenhum credo contém a perfeição.
Nenhuma visita pastoral traz consigo todas as soluções.
Nenhum programa cumpre plenamente a missão da Igreja.
Nenhuma meta ou objetivo atinge a dimensão completa.
Disto se trata:
Plantamos sementes que um dia nascerão.
Regamos sementes já plantadas,
sabendo que outros as guardarão.
Pomos as bases de algo que se desenvolverá.
Pomos o fermento que multiplicará as nossas capacidades.
Não podemos fazer tudo,
mas dá uma sensação de libertação iniciá-lo.
Dá-nos a força de fazer qualquer coisa e fazê-la bem.
Pode ficar incompleto, mas é um início, o passo de um caminho.
Uma oportunidade para que a graça de Deus entre
e faça o resto.
Pode acontecer que nunca vejamos a sua perfeição,
mas esta é a diferença entre o mestre de obras e o trabalhador.
Somos trabalhadores, não mestres de obras,
servidores, não messias.
Somos profetas de um futuro que não nos pertence.
Paulo Ueti, Diocese Anglicana de Brasília e Anglican Alliance/ACO.
Viveu seus primeiros anos em Ávila (Espanha), Teresa de Ahumada. Ainda criança aprendeu, com sua mãe, o gosto pela leitura. Cedo também despertou nela o desejo de sair, em romper com as convenções historicamente estabelecidas a respeito do lugar reservado às mulheres de sua classe: o matrimônio, o lar, a família.
Sua saída para o convento, ainda jovem, foi um abrir-se a possibilidade do mergulhar no Outro; nesse Amor que ardia em seu peito e a chamava à ventura. Mas, o convento era muito pouco para uma alma tão sedenta de absoluto. Por entre a suntuosidade, de banquetes e serviçais, e a rígida regra de mortificações da carne, com cilícios e chicotes, Teresa descobre o caminho da ‘perfeição’, o caminho da ‘reforma interior’ em Cristo. Um Cristo que é para ela um amado, que sorri e dança. Alguém que a faz gozar das delícias de sua Graça, mais que acima de tudo a ama a ponto de, acarinhando o coração de sua alma, arrebata-la em mística núpcia.
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