Painel dia 14 março v2

De 12 a 17 de março, ativistas de várias partes do mundo, reuniram-se em Salvador, na 13ª edição do Fórum Social Mundial. Estive presente representando o Centro de Estudos Anglicanos (CEA). No dia 14 de março, coordenei o painel temático “Desafios Afro-Americanos na Luta de Resistência ao Colonialismo”. Dia intenso, de partilha de experiências e perspectivas negras que me encheram de esperança. No dia seguinte, surpreendo-me com a notícia da execução de Marielle Franco, ativista negra lésbica e feminista, e ao ver sua foto logo pensei: podia ser eu. Foi uma de nós!

cartaz

No dia 15, nossa presença se deu no Fórum Permanente das Mulheres Negras, onde foi possível a partilha de experiências inspiradoras de luta e resistência. De manhã, toda a programação do FSM foi interrompida para um cortejo, uma marcha que reuniu as pessoas presentes num luto que me constrangeu e me constrange até agora a seguir firme na luta. Com Marielle também foi executado seu motorista, Anderson Gomes. Desde então estou impactada. Vivemos tempos sombrios no Brasil. Não bastassem os terríveis feminicídios diários, somos surpreendidas por um crime político. Como se a história de tempos outros, que quando nasci, em 1971, ainda se impunha sobre a vida de muitas pessoas, parecia voltar de maneira escandalosa.

O que fez Marielle para que fosse atingida por tamanha barbaridade? Cumpria responsavelmente um mandato legítimo como quinta vereadora mais votada de uma das maiores capitais brasileiras, cuja violência (também comum a outras capitais), tem ceifado muitas vidas, principalmente vidas negras. Balas. Mortes. Silêncio? Não! Muito pelo contrário! No Brasil e no mundo não há espaço para silenciar. A dor ecoa e se corporifica em justas homenagens, porque Marielle representava muita gente das periferias cariocas, mas também periferias de várias parte do mundo; pois sua luta por uma sociedade livre do classismo, do racismo e do sexismo, é a mesma de todas nós. Precisei de alguns dias para ruminar o impacto dessa execução. Refaço-me diariamente nas comunidades de fé, de vida e de luta.

No penúltimo dia do FSM, mulheres de várias partes do mundo, reunimo-nos em assembleia para compartilharmos experiência de luta e de resistência e para pensarmos ações conjuntas para o enfrentamento das muitas violências que nos assolam. Dessa vez, vivendo o luto que nos inspira a continuarmos perseverantes na luta, pois através de nós, Marielle e tantas outras mulheres que nos antecederam, seguem vivas!

A participação na programação do FSM fortaleceu a necessidade imperativa explícita do lema permanente que embala o Fórum desde a primeira edição, e aqui reafirmamos: UM OUTRO MUNDO É POSSÍVEL! E para que esse mundo possível seja aqui e agora, enquanto vivemos o dilema do já e do ainda não do Reino de Deus, a atual edição do FSM nos desafia com o tema “Resistir é criar. Resistir é transformar.” Sigamos criando, resistindo e transformando.

Revda. Dra. Lilian Conceição da Silva
Departamento de Comunicação e Publicações