Confira o terceiro texto do Projeto: Narrativas, referentes a catástrofe climática no RS.

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Diálogo dos Deuses

Era uma vez uma aldeia indígena no meio da Amazônia da tribo Tupinambá que vivia em guerra com uma aldeia vizinha pela posse de terras. Eles acreditavam que Tupã, o deus dos trovões, dos rios e dos mares estava enfurecido com eles, pois não parava de chover há meses. Mas não podia ser apenas a guerra, pois eles estavam constantemente em conflito. Algo mais estava causando aquelas chuvas.

Suas casas haviam sido invadidas pela água e as tribos brigavam ainda mais tentando decidir qual delas havia atiçado a ira do deus Tupã para trazer tremendo castigo sobre o seu povo.

Os tupinambás haviam feito tudo certo: respeitado os poderes e limites da natureza, não caçando e colhendo mais do que precisavam para o seu sustento, venerando os deuses da natureza, prestando-lhes culto e vivendo em harmonia com a natureza.

O único elemento, além da guerra com os vizinhos, que interferia com a felicidade deles era o homem branco, que avançava a cada ano mais nas suas terras, destruía a natureza com as suas escavadeiras e instalava garimpos ilegais próximos da sua aldeia.

Fora esses dois fatores, a guerra e a invasão dos brancos, nada explicava a ira de Tupã e eles ficavam desesperados sem respostas para as catástrofes naturais.

À noite, nas rodas de conversa e de histórias, o que os indígenas lembravam era de histórias que diziam que o deus que criou o mundo de tempos em tempos o destruía para formar algo novo, começando a história da criação desde o começo.

Mas essa explicação não convencia João, o missionário branco que havia conseguido fazer amizade com os índios e vivia no meio deles havia três meses, desde que as chuvas haviam começado. Ele era um missionário diferente de todos que já haviam estado na aldeia, sempre desejosos de impor os seus costumes e remetendo ao diabo e às suas hostes os seus cultos tribais.

João, em contraste, respeitava as suas práticas, não as demonizava e procurava o diálogo com os indígenas, conhecendo os seus mitos e suas histórias.

Ele dizia que havia um deus justo governando todas as coisas e que havia prometido que não destruiria tudo de novo como no caso da história do dilúvio e da arca de Noé, história, aliás que agradou tremendamente os indígenas.

Mas ele lhes contou também que, se há um culpado para a ira de Tupã era o homem branco, que, com os seus recursos, destruía a natureza reiteradamente sem dó nem piedade, cuidando apenas do seu próprio bem-estar e conforto, sem ligar a mínima para a preservação da natureza.

Os indígenas, ao ficar sabendo disso, lhe perguntaram se ele não temia pela sua vida, sabendo que eles estavam procurando por um culpado para as suas desavenças e desgraças. E lhe perguntaram ainda se ele não tinha medo por sua alma, para onde ela iria depois de ter cometido tantas atrocidades e depois que eles o tivessem exterminado.

Ele respondeu que se sacrificaria com prazer para o bem da tribo e da humanidade, reconhecendo sua parcela de culpa no que os humanos brancos haviam feito, mas que antes dele, outro havia se sacrificado por toda humanidade de uma vez por todas, pois era o filho do Deus altíssimo. E ele sabia que, pelo sacrifício desse filho de Deus ele seria perdoado e levado ao Reino desse Deus, pelo poder do seu sangue, por isso, não temia por sua alma.

Ouvindo isso, os indígenas perdoaram João e até a tribo vizinha, o sol voltou a brilhar eles reconstruíram os seus lares e tudo ficou bem com aldeia Tupinambá.


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