Confira um novo texto do Projeto: Narrativas, referentes a catástrofe climática no RS.

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Projeto Narrativas: A fúria dos deuses

Zeus, o senhor dos deuses, estava no Olimpo num daqueles dias de grande inspiração. Ele havia criado o Cosmos com todo e esmero e realmente a obra tinha ficado magnífica: a natureza e seus biomas, os animais cada um em seu habitat natural, as cadeias alimentares e os ecossistemas, tudo funcionando em plena harmonia.

Então, Prometeu, um dos irmãos de Zeus, considerado um dos mais inteligentes deuses, resolveu criar esse antropos, o sujeitinho chamado humano, a partir de um molde de barro para administrar tudo aquilo. Para dar-lhe vida, roubou o fogo do Olimpo, que representa a tecnologia, e deu-o à humanidade, enfurecendo Zeus. Ele previa o desastre que era a tecnologia sem rédeas para a humanidade. Então resolveu dar-lhes de presente o dom da política para fazer as coisas voltarem ao equilíbrio.

Zeus castigou Prometeu pelo seu crime, amarrando-o a uma montanha e fazendo uma águia comer o seu fígado. Como os deuses não morrem, ele se regenerava sempre que seu fígado era comido e assim permaneceu num ciclo de destruição e regeneração para sempre.

O homem era aparentemente perfeito: Forte, corajoso, inteligente e capaz de governar toda a natureza.

Mas no grande dia da apresentação de sua criação aos demais deuses do Olimpo, seus irmãos, que tinha o intuito de fazê-los empalidecer de inveja. Mas, depois de muita festa e celebração, um dos irmãos levantou a voz tímido e pediu a palavra:

– Deveras esplêndida e deslumbrante a sua criação, Zeus, mas se me permite fazer uma observação, esse ser que Prometeu criou sob a sua guarda para governar a natureza está enviesado. Ele tem tudo para governar, mas falta-lhe algo essencial. Ele tem um rombo na memória. Ele lembra do dia do pagamento, da final do campeonato de futebol, de sua conta bancária, do dia do pagamento. Mas ele esquece do principal: esquece mais precisamente de quem ele é!

– De fato não havia reparado nisso – admitiu Zeus imediatamente, batendo com a mão na cabeça. – Passou batido! Obrigado por alertar. Vou já, já tomar as providências devidas, pois as consequências são desastrosas!

– Sim porque ele pode achar que vale mais do que os animais rios e florestas – observou o deus – caindo no pecado da soberba e cometendo injustiças mil; pode se esquecer de ser agradecido a eles; pode se esquecer do que realmente lhe faz bem e achar que o dinheiro e a fama a todo custo é que lhe trazem a felicidade e o pior: pode esquecer-se de respeitar o seu meio ambiente, que é o que lhe garante a vida. As implicações são catastróficas!

Depois de alguns momentos de silêncio reflexivo e contrito, o deus indagou pensativo:

– Mas qual é exatamente o seu plano, Zeus?

– O plano – respondeu ele – é criar algo que faça os seres humanos se lembrarem das coisas essenciais. Nada melhor do que a música e a poesia para isso. Graças aos deuses Prometeu não fez só bobagem e distribuiu a alguns humanos o dom da arte. E eu vou cuidar para que elas fiquem sempre inspirados, pois vou enviar-lhes nove deusas, minhas filhas com a Mnemósine, que é a deusa da memória, que chamaremos de musas. Elas terão beleza, bondade, voz, canto, habilidade de dançar, sensatez entre outras qualidades. E elas irão cantar o presente, o passado e o futuro, ao som da lira de Apolo, inspirando também os literatos, dançarinos, astrônomos e filósofos.

– Esse é um bom plano, Zeus, acho que vai dar certo! – comentou o deus entusiasmado.

O plano foi executado e, enquanto havia poetas, cantores, filósofos, etc. tudo foi bem com os humanos e a Terra.

Mas Zeus achou que o homem estava só e merecia uma companheira. Então criou Pandora e deu-lhe uma caixa contendo todas as desgraças e males da humanidade. Zeus ofereceu Pandora, que era muito bela e recebera vários dons de presente das deusas do Olimpo, a Prometeu, mas esse recusou, temendo, com razão, que essa fosse mais uma parte do plano de vingança do senhor dos deuses por ele ter roubado o fogo do Olimpo para os humanos.

Então Zeus deu Pandora e sua caixa ao irmão de Prometeu, Epimeteu, e esse jurou que manteria a caixa, cujo conteúdo ele e Pandora desconheciam, bem fechada e vigiada. Mas foi só Epimeteu cair em sono profundo que Pandora, que havia seduzido Epimeteu para deixar a caixa sem guarda, foi espiar para dentro dela, liberando as desgraças para a humanidade. Graças aos deuses, porém, ela fechou a caixa bem a tempo de preservar nela a única coisa que havia de positiva: a esperança.

Mas até a esperança é um dom que não resiste ao caos e à degradação dos tempos. Os anos foram se passando, a política se corrompeu e a tecnologia predominou. Depois de gerações de poetas e músicos cumprindo sua função, e o problema de memória da humanidade foi piorando e ela foi perdendo a música, a poesia e com elas, a esperança. Como resultado os poetas e cantores foram sendo esquecidos e com eles, o respeito à natureza e aos deuses. As ninfas dos bosques, dos rios e das árvores quase foram extintas.

Até que chegou o século XXII e todos os ofícios das pessoas passaram a ser contratados pelo Estado de acordo com a sua utilidade para o desenvolvimento da tecnologia e da economia. O materialismo, consumismo, individualismo, os preconceitos e os radicalismos e totalitarismos foram tomando conta das sociedades. Não havia mais espaço para poetas, músicos, literatos, astrônomos, dançarinos e até filósofos. Assim, as musas foram se afastando, pois não havia mais seres humanos capazes de enxergá-las e as implicações da falta de memória do ser humano se agravaram, com sérias consequências para a natureza.

Zeus, que também é o deus do trovão e os demais deuses ficaram furiosos com a humanidade, lançando tempestades com deslizamentos e enchentes, furacões, terremotos, erupção de vulcões, secas e outras catástrofes climáticas sobre a Terra.

Foi assim que o mundo acabou e quando a fúria dos deuses se aplacou, eles se viram sós.

Até que outro deus inventou de criar um novo cosmos. Novos seres enviesados foram criados para controlá-lo e tudo recomeçou.

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