Páscoa 2025, 40 anos de ordenação feminina e o testemunho Pascal da IEAB

Por Revda. Tais

A Ressurreição acontece
onde a vida vence a morte!

Neste ano, estamos completando 40 anos desde que a primeira mulher foi ordenada na nossa Igreja. Hoje temos aproximadamente 40 mulheres presbíteras atuando em nossas Dioceses, fora aquelas que já faleceram. Temos três Bispas Diocesanas, das quais, uma é primaz da nossa Província e das Províncias das Américas.

Estamos na Semana Santa que culmina na Páscoa. Mais uma vez, a Ressurreição de Cristo nos desafia a refletir sobre as nossas vidas em comunidade, na Igreja e no testemunho cristão na sociedade. Para a celebração dos 40 anos de ordenação feminina, as Reverendas escolheram a passagem do Evangelho de João, na qual, Maria Madalena encontra Jesus ressuscitado e, Este, a envia para que anunciasse o fato aos seus irmãos e, porque não dizer, irmãs também; pois encontramos várias passagens de mulheres que seguiam Jesus especialmente nos Evangelhos de João e Lucas.(João 20.1-18 e Lc 8.1-3).

O anúncio de Maria Madalena mudou tudo. Mudou tanto que depois houve toda uma campanha para difamar sua memória, e, só recentemente, algumas igrejas a reconheceram como apóstola dos apóstolos e apóstolas. Não teria acontecido o mesmo quando, a partir da caminhada e luta de muitas mulheres, em 1985 a nossa Igreja concretizou a Ordenação de mulheres, através da Reverenda Carmen Etel Alves Gomes? Olhando para atrás, podemos contemplar várias mudanças que ocorreram na nossa Igreja depois disto. Mudanças para melhor, as quais têm fortalecido o testemunho a IEAB, que tem apresentado o amor pregado e trazido por Jesus Cristo de forma concreta na nossa sociedade como um todo, no âmbito ecumênico e inter-religioso.

Faço um paralelo com a Páscoa. De certa forma a partir daí nossa Igreja teve um comportamento predominantemente Pascal. Entre as coisas que mudaram com o anúncio apostólico das mulheres, e em especial das mulheres ordenadas, destacamos a linguagem inclusiva no Livro de Oração Comum (LOC), nos cânones e na linguagem cotidiana da Igreja. Hoje podemos chamar e orar a Deus como Pai e Mãe, libertando das amarras que limitavam a divindade a atributos machistas. Nossas mulheres, e especialmente as meninas, podem se sentir dignas e ao mesmo nível que nossos irmãos homens perante Deus.

A discussão sobre a ordenação de pessoas LGBTQIAP+ avançou muito e hoje podem ser ordenadas de forma segura e afirmativa. As pessoas podem se apresentar como são e não é mais necessário “esconder” seus/suas companheiras.

O diálogo, com e a favor da Criação Divina, também aprofundou-se na Igreja. Hoje entendemos a urgência e o dever de lutarmos pela proteção da Natureza e a importância de respeitar toda a diversidade que compõe este mundo criado por Deus. Cartilhas foram feitas, comissões têm funcionado com este objetivo. Precisamos avançar muito mais devido à abrangência das calamidades que a usurpação e exploração sem limites da natureza tem trazido. Em todas essas iniciativas, há uma participação decisiva das mulheres e, entre elas, das mulheres ordenadas.

Assuntos relativos à família e à mulher são discutidos e são razão para debates na Igreja. Hoje pessoas ordenadas e leigas, discutem assuntos como violência de gênero contra a mulher, machismo, racismo, intolerâncias e outras vulnerabilidades humanas. Assuntos trabalhados em cartilhas que têm contribuído para uma luta mais efetiva na igreja e na sociedade. Hoje temos instâncias na Igreja que funcionam permanentemente em função destes temas.

Algumas Reverendas comentam que enfrentaram, e enfrentam, algumas posturas machistas de alguns paroquianos. Mas algumas também contam que, após um tempo, estas pessoas deixaram de ser misóginas e passaram a respeitar e valorizar seus ministérios.

Hoje, na sua maioria, as pessoas se sentem à vontade e realizadas quando afirmam que na IEAB temos três mulheres Bispas. Observa-se também uma rica contribuição das mulheres neste âmbito. A sua participação e a contribuição dada por nossas Bispas e Clérigas, em geral, tem impactado as nossas Dioceses, a nossa Província, a Comunhão Anglicana e no meio ecumênico e inter-religioso.

Sabemos que nós, “episcopais anglicanas(os)”, somos poucas pessoas no nosso país, mas temos que continuar o nosso testemunho “pascal”, ouvindo ao anúncios das novas Marias de Magdala, trazendo novos desafios e esperanças neste mundo tão ameaçado por violência, desequilíbrio ecológico, machismo, homofobia, racismo e ignorâncias. Temos também que continuar estimulando o ministério feminino para que a IEAB mantenha sempre o seu equilíbrio e continue colocando o amor incondicional como ponto de partida e horizonte na sua prática teológica, missionária e pastoral.
Jesus ressuscitou! Marias Madalenas, não tenham medo. Vão e contem aos seus irmãos e irmãs que Jesus ressuscitou! É Páscoa!

Revda. Taís Soares Feldens. Teóloga
Enfermeira especialista em saúde pública